Crescemos em um País onde usar a natureza para fins capitalistas se tornou um hábito. Fomos colonizados para explorar recursos locais, as gerações passadas cresceram assim e possivelmente os seus pais cresceram assim. Hoje vivemos o desafio da sustentabilidade, da preservação dos poucos recursos naturais que sobraram.
Infelizmente as pessoas (maioria delas) não visualizam um mundo para próxima geração e não se esforçam para conservá-lo. Vivemos o hoje - pego o saquinho do mercado, não separo o lixo, fico mais 10 minutos no banho, não presto atenção de onde vem e como é feito o alimento que consumo (ecologicamente falando), consumo por impulso, ...
A questão não é se podemos comprar, se podemos consumir. A resposta é se devemos, se é ético, se é certo.
Quando não se valoriza um bem comum, como os recursos naturais, a natureza e a VIDA, uma hora te cobrará suas responsabilidades.
Eu não me conformo na relação árvores - sociedade. Historicamente, creio que foram injustiçadas, exploradas e devastadas. Vejo todo dia bairros e condomínios brotarem nos centros urbanos e na região rural. Mas quando eles chegam as árvores caem. Por que?
Me pergunto os motivos de não podemos ter dezenas de conselhos e estudos realizados sobre desenvolvimento social sustentável. Acho que vivemos na sociedade do FAÇA - o mais rápido possível, com o mínimo de esforço possível. Não conserve!
Será que somos exploradores antiéticos, consumistas patológicos e cidadãos sem valores?
Não!
Ainda existe salvação.
Li uma notícia que me deixou bem feliz.
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Historiador e professor da USP - Henrique Carneiro, 52 anos de cidadania. |
Um historiador e professor da USP - Henrique Carneiro, 52 anos (poderia estar fazendo outra coisa, tendo outras prioridades), escutou o som de motosserras perto de sua casa e sentiu um incomodo (adoro essa sensação porque nos move para fazer algo novo). Ele morador de São Paulo, percebeu que funcionários iriam "podar" árvores perto de sua casa. - Para quem está de olhos abertos sabe bem que normalmente nessas podas as árvores são judiadas e praticamente mortas. - Ao ver que uma das árvores já havia perdido 3 partes do corpo, ops, digo tronco, ele decidiu subir em uma árvore como forma de protesto. Sua foto está espalhada pelo facebook (onde tive acesso à informação) e no jornal
Estadão.
Sim, o PROFESSOR mais uma vez fez a diferença. Mas antes de professor, ele é um cidadão consciente de seus valores e do valor que as árvores, a natureza e suas conexões, possui para a sociedade.
Olhem alguns trechos da notícia:
"Alguns riram de mim, outros até concordaram. As árvores estavam saudáveis, não atrapalhavam a rede elétrica e a ordem era de poda generalizada. Esse tipo de ação é irreparável. Depois de cortadas, nada poderia ser feito", afirma. "A herança brasileira é de destruição do verde, a começar pela Mata Atlântica. Há uma cultura 'antiárvore', as pessoas parecem ter horror ao verde. O que houve aqui foi crime, atentado ao espaço verde e lúdico."
"Segundo a Subprefeitura do Butantãa poda, no entanto, seria de uma única seringueira e não das 15 árvores podadas pelas motosserras (DU-VI-DO!). A justificativa seria garantir a segurança do local com mais luminosidade - argumento compartilhado por alguns moradores." Mas será que cortar as árvores é a única alternativa para melhorar a segurança da região?
Para o artista plástico Ivan Pereira, de 72 anos, a segurança é uma preocupação, mas outra solução poderia ter sido encontrada. "Precisamos de iluminação, mas o que fizeram aqui não foi poda, foi estupidez. Tenho uma foto do meu filho brincando naquela árvore quando ainda era uma criança. Cortaram 30 anos de história."
Ou seja, desvaloriza-se a árvore como patrimônio histórico natural, desvaloriza-se suas relações sociais e biológicas. Escolhem um caminho prático, antiético, ditador para ela.
A subprefeitura garante que, antes da execução dos serviços, agrônomos fazem vistoria e elaboram laudo técnico sobre a condição das árvores. Ainda segundo o órgão, podas são feitas quando as árvores apresentam más condições, estão prestes a cair ou interferem na fiação elétrica.
Árvores não apresentam más condições. Árvores são árvores. Más condições quem dá é o ser humano, principalmente seus péssimos representantes que não são capazes para pensar políticas públicas descentes para a sociedade. As árvores provavelmente já estavam lá antes de chegarem os fios. Pensassem em novos caminhos para os fios. Isso me revolta demais. Representantes políticos incompetentes, políticas públicas deficientes.
Durante todo o dia, Carneiro e sua mulher, Sílvia Miskulin, de 41anos, também historiadora e professora universitária, ficaram de prontidão para evitar a poda. Eles procuraram vizinhos para pedir apoio e enviaram denúncia ao Ministério Público. O professor diz que, caso a empresa volte, subirá de novo nas árvores contra o corte. Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, o serviço será feito ainda nesta semana.
Ainda bem que vivemos ainda em um local onde alguém toma a iniciativa de sair de sua zona de conforto para um bem maior. Esse cara é O PROFESSOR!
Referências Bibliográficas
Estadão: Professor sobe em árvore para impedir poda.